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O Horror de Sylvia Likens

  • Foto do escritor: Sabrina M. Szcypula
    Sabrina M. Szcypula
  • 30 de mai. de 2023
  • 8 min de leitura

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Sylvia Marie Likens (Lebanon, 3 de Janeiro de 1949 - Indianápolis, 26 de Outubro de 1965) foi uma adolescente estadunidense que foi brutalmente torturada e assassinada principalmente por Gertrude Baniszewski e seus filhos na época dos anos 60. Ela era a terceira filha de um casal de atores circenses, Betty e Lester Likens, e foi deixada aos cuidados de Gertrude juntamente de sua irmã três meses antes de sua morte.


Quem foi Sylvia Likens

Sylvia era a filha do meio entre dois pares de gêmeos, sendo eles Diana e Daniel, que eram dois anos mais velhos que ela, e Jenny e Benny, que eram um ano mais novos que a garota. O casamento de seus pais, assim como a vida financeira da família era instável e, consequentemente, a família estava constantemente se mudando, fazendo com que Sylvia já estivesse acostumada a ficar com parentes ou conhecidos dos pais enquanto eles estavam em turnê com o circo. Sylvia chegou a morar em 14 lugares diferentes durante seus 16 anos.

Ocasionalmente Sylvia trabalhava como babá ou faxineira, também realizando outros diversos trabalhos para amigos e vizinhos, entregando grande parte de seus ganhos para a mãe, assim ajudando de certa forma com qualquer despesa. Ela sempre foi considerada uma garota gentil, confiante e bem animada, sendo apelidado de ‘Cookie’ por seus amigos mais próximos.

Em 1965, quando ela tinha 16 anos, Sylvia e Jenny estavam com o pai em Indianápolis que, no momento, estava separado de Betty, que inclusive estava viajando com o circo. Em dado ponto, Lester estava se preparando para também sair em mais uma turnê com o circo quando resolveu deixar as duas filhas com Gertrude Baniszewski, mãe de Paula, uma garota que as duas irmãs eram amigas por conta da igreja e, semanalmente, mandava 20 dólares para ajudar com as despesas que Gertrude teria. Mesmo que Gertrude já tivesse sete filhos e fosse pobre, ela aceitou cuidar das meninas por conta do dinheiro que iria receber do pai das meninas.

Lester não chegou a conferir se o local que as filhas iriam ficar era bom ou seguro, no entanto, ele mesmo assim resolveu que as deixaria sob os cuidados de Gertrudes e que, se necessário, ela poderia “endireitar suas filhas”, assim como fazia com os próprios filhos.


Um crime absurdo

Gertrude tinha sérios problemas com sua saúde mental decorrente de anos de relacionamentos abusivos e da situação precária que vivia, era desnutrida, fumante inveterada mesmo sofrendo de asma e também tinha de depressão, esta que foi agravada por um aborto espontâneo, ou seja, não era alguém que estava apta para arcar com a resposabilidade de cuidar de crianças, muito menos tantas crianças ao mesmo tempo, .

Inicialmente tudo ocorreu bem, as meninas ajudavam nas tarefas domésticas, frequentavam a catequese e se tornaram amigas de todos os filhos de Gertrudes, mas a calmaria não durou muito já que ainda nas primeiras semanas em que as duas garotas estavam com Gertrude, após um curto atraso no pagamento dos pais das irmãs, em torno de dois ou três dias, as agressões começaram. Gertrude começou a espancar as duas meninas com frequência - em principal a Sylvia - por achar que havia sido enganada e que agora teria outras duas bocas para alimentar sem o dinheiro extra, e mesmo após o pagamento chegar, as agressões perduraram.

Além de bater nas duas meninas, Gertrude dava quantidades significativamente menores de comida para Sylvia, como uma forma de castigo, o que levou a garota a se alimentar de sobras pela casa.

Pouco após as agressões começarem, Gertrude acusou Sylvia de ter roubado doces em um supermercado, doces que na verdade ela havia comprado, e humilhou a garota quando ela admitiu ter começado a namorar, outro ato que Gertrude realizou ao saber do namoro da adolescente, foi ter chutado Sylvia diversas vezes nas genitais enquanto a acusava de estar grávida, mesmo a garota nunca tendo tido qualquer relação sexual com o namorado.

Na realidade, realmente tinha alguém que estava grávida e esta era Paula, filha de Gertrude e até pouco antes das agressões começarem, amiga de Sylvia, porém a garota deixou Sylvia levar a acusação de estar grávida em seu lugar e ainda a derrubou no chão e a chutou juntamente de sua mãe.

Paula e sua irmã, Stephanie, começaram a acusar Sylvia de fazer fofocas no colégio, as chamando de prostitutas e comentando que por isso Paula estava grávida, obviamente essa alegação das duas irmãs eram falsas, no entanto ninguém acreditou na palavra de Sylvia, este foi inclusive o suposto motivo de Coy Hubbard, namorado de Stephanie, atacar a adolescente usando golpes de judô. Foi após esse ato que Gertrude começou a encorajar Coy e outras crianças da vizinhança além de seus filhos a atormentarem Sylvia, incluindo, entre várias formas de tortura, queimar sua pele com cigarros e a fazer tirar suas roupas e forçar a inserir uma garrafa de Coca-Cola em sua vagina.

A violência se intensificava cada vez mais e sem nenhuma previsão de ser finalizada, sempre sendo encorajada por Gertrude, em alguns casos a mulher até mesmo cobrava dos garotos da vizinhança alguns centavos para que eles pudessem ver o corpo de Sylvia nu.

Diariamente Gertrude agredia Sylvia junto de seus filhos e das crianças vizinhas, e para não levantar maiores suspeitas, decidiu retirar a garota da escola, não lhe permitindo sair de casa. A irmã de Sylvia, Jenny, constantemente sofria ameaças e também era espancada - no entanto em menor escala - para que em nenhum momento ela comentasse com qualquer pessoa sobre o que estava acontecendo com a irmã e, por conta do medo, a menina só contou o que aconteceu após a morte da irmã.

Sylvia inclusive acabou urinando em sua cama, ocasionado pelas diversas agressões e, por conta disso, foi trancada no porão da casa, não tendo a oportunidade de sair de lá e sendo proibida de usar o banheiro, mais tarde, ela foi obrigada a consumir sua própria urina e fezes que estavam no porão.

Baniszewski chegou ao ponto de começar a tatuar no dorso de Sylvia com uma agulha aquecida “I’m a prostitute and proud of it!” (tradução: Eu sou uma prostituta e tenho orgulho disso), mas quem realmente finalizou a tatuagem foi Richard Hobbs, um dos vizinhos que ocasionalmente participava das torturas.

Alguns vizinhos chegaram a notar que algo estava errado na casa dos Baniszewski e uma denúncia anônima foi feita à escola das crianças, dizendo que uma das garotas da casa tinha machucados por todo o corpo, o colégio chegou a enviar uma enfermeira para investigar a denúncia mas Gertrude inventou que Sylvia havia fugido de casa, motivo esse da escola encerrar o caso.

Sylvia chegou a tentar fugir dias antes de sua morte, porém Gertrude a capturou novamente e dessa vez a amarrou no porão, onde foi novamente agredida diversas vezes, inclusive foi em meio dessas agressões que Coy Hubbard bateu violentamente na cabeça de Sylvia com um cabo de vassoura.

No dia 26 de outubro de 1965, os filhos de Gertrude passaram a tarde atormentando Sylvia, inclusive lhe “dando um banho” de mangueira, foi nesse momento que Gertrude deu um golpe na cabeça da garota que fez com que o corpo já fraco de Sylvia não aguentasse, fazendo com que ela tivesse uma hemorragia cerebral, segundo o relatório médico.

Stephanie e Richard foram os primeiros que perceberam que Sylvia estava morta e, em uma tentativa inútil de ressuscitar a garota, Stephanie tentou aplicar respiração boca-a-boca, enquanto Gertrude gritava que ela estava fingindo e batia no corpo já sem vida de Sylvia com um livro.


O julgamento

Richard chamou a polícia a mandado de Gertrude e essa lhes entregou uma carta que forçou Sylvia a escrever alguns dias antes de morrer, onde dizia que ela havia feito sexo com um grupo de jovens por dinheiro e eles lhe agrediram e queimaram a frase em seu torso, porém Jenny, a irmã de Sylvia, parou um dos políciais e sussurrou “Me tire daqui e lhe contarei tudo”.

Durante o julgamento, Gertrude alegou insanidade mental e, por conta disso, não tinha responsabilidade pela morte de Sylvia. Segundo seu depoimento, ela dizia estar muito doente e não podia tomar conta de tantas crianças. Gertrude foi descrita por jornais como o Indianapolis Star como uma mulher anêmica e depressiva, fruto do stress de casamentos fracassados durante aquele período.

Os advogados dos menores envolvidos (Paula e John Baniszewski, Richard Hobbs e Coy Hubbard) afirmaram que eles foram pressionados por Gertrude e sua insanidade para cometer as torturas contra a garota.

Quando Marie Baniszewski, filha de onze anos de Gertrude foi convocada como testemunha de defesa, a garota acabou mudando sua fala e admitindo que foi forçada pela mãe a aquecer a agulha que foi usada por Gertrude e Richard para tatuar a frase na pele de Sylvia, além de ter visto a mãe agredir Sylvia diversas vezes no porão.

Em 19 de maio de 1966, Gertrude foi condenada por assassinato em primeiro grau e condenada à prisão perpétua. Paula deu à luz a uma menina durante o julgamento, filha essa que deu o nome de Gertrude em homenagem a mãe mas que foi separada dela já que essa foi condenada por assassinato em segundo grau e condenada também a prisão perpétua.

Richard Hobbs, Coy Hubbard e John Baniszewski foram acusados e condenados pelo crime e ficaram dois anos detidos em um centro juvenil.

Em 1971, mãe e filha foram julgadas novamente e, após confessar sua culpa, Paula foi solta depois de dois anos, já Gertrude foi acusada novamente mas conseguiu condicional em 1985, apesar da indignação pública.


O que houve com os envolvidos

Após ser libertada, Gertrude mudou seu nome para Nadine van Fossan e se mudou para Iowa, onde viveu até 16 de junho de 1990, quando morreu por conta de um câncer no pulmão.

Richard Hobbs morreu também com câncer no pulmão quando ainda tinha 21 anos, quatro anos após ter deixado o reformatório.

John Baniszewski, auto intitulado de John Blake, chegou a ir a público e fazer uma declaração descrevendo como ele conseguiu superar seu passado de crimes e que jovens criminosos não são irrecuperáveis. Antes de morrer, John chegou a casar e ter três filhos. Ele faleceu em 19 de maio de 2005 aos 52 anos em decorrência de complicações de diabetes, em Lancaster, Pensilvânia.

Coy Hubbard passou o resto de sua vida entrando e saindo da cadeia, tendo passado por uma acusação de ter assassinado dois homens. Coy também chegou a casar e teve cinco filhos, dezessete netos e um bisneto. Ele morreu no dia 23 de junho de 2007 aos 56 anos por conta de um ataque do coração, em Shelbyville, Indiana.

Paula Baniszewski deu à luz a uma menina dentro da cadeia que mais tarde foi adotada. Quando se viu livre ela assumiu uma nova identidade e se casou e teve dois filhos. A última atualização que se teve dela foi em 2012 onde foi descoberto através de uma denúncia anônima que uma assistente escolar do estado de Iowa denominada de Paula Pace era, na verdade, Paula Baniszewski. Ela foi demitida pela prefeitura de Conrad por ter dado informações falsas durante o processo de contratação e ter se recusado a dar mais explicações.

Stephanie Baniszewski teve as acusações de participação na morte de Sylvia retiradas após ela ter colaborado com a justiça. As últimas atualizações referentes a ela foi que Stephanie se tornou professora e teve alguns filhos.

As acusações de participação no crime de Anna Ruth Sicoe, Judy Darlene Duke, Michael John Monroe (Mike) e Randy Gordon Lepper, todos vizinhos que tiveram contato com Sylvia em seu período de cárcere privado e tortura foram retiradas. Randy inclusive morreu aos 56 anos em 14 de novembro de 2010, em Indianapolis.

Já Jenny Likens, a irmã de Sylvia que teve que presenciar todas as torturas, viveu com o marido em Beech Grove, Indiana, até 23 de junho de 2004, onde faleceu por conta de infarto aos 54 anos.


Inspiração na cultura pop

O caso de Sylvia Likens foi um dos piores relacionados e cárcere privado e tortura já vistos nos Estados Unidos, e obviamente acabou ganhando grande destaque e sendo muito documentado, se tornando a inspiração de diversas obras como:


  • Quando os Adams saíram de férias (Livro por Mendal. W. Johnson)

  • Um crime americano (Filme)

  • A Garota da Casa ao Lado (Livro por Jack Ketchum e adaptado para o cinema)

  • O Porão: Meditações sobre o sacrifício humano (Livro por Kate Millett)

  • By Sanction of the victim (Livro inspirado no caso por Patte Wheat)


Fontes

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